Hoje de manhã, quatro rapazes tentaram entrar na estação Penha
do Metrô com uma garrafão (sim, não era uma garrafa, mas um garrafão) de
vinho, o mais vagabundo possível, que
passava de mão em mão para um santo golezinho. Os seguranças não permitiram
e disseram que teriam que guardar o garrafão, se
quisessem passar pela catraca. Um dos garotos o colocou na mochila e, então,
foram liberados para entrar. Como peguei o mesmo vagão que eles, fui ouvindo
parte da conversa. Estavam indo para a manifestação contra o aumento no preço
da passagem, no Largo da Batata, que só aconteceria no início da noite.
Fiquei impressionado com a, digamos, inteligência prática
deles. Aquilo era genial, porque estavam unindo o útil ao agradável. Vejam só:
todo apreciador de vinho sabe que, depois de aberta, a garrafa de vinho tem que
ser consumida logo, porque, do contrário, ocorre um processo chamado de
“avinagramento” ou seja, ele se deteriora e vira vinagre, e quanto pior a
qualidade do vinho (como era o caso),
mais rapidamente isso acontece.
Ora, como se sabe, o vinagre é usado para diminuir os efeitos da fumaça
das bombas lançadas pela polícia. Considerando, então, que a manifestação só
ocorreria dentro de algumas horas, haveria tempo, o suficiente, para o restante
se transformar em vinagre e ser usado como “antídoto”.
A manifestação de hoje tem tudo para transcorrer em paz, como
uma tranquila ceia familiar. Parece que o local foi mesmo escolhido a dedo por
algum chefe de cozinha: Largo da Batata, e ainda com vinagre pra dar e vender.
Então, o prato do dia deve ser batatinhas ao vinagrete, defumadas por bombas de
gás lacrimogênio. Tudo por apenas R$ 0,20. Isso tá muito barato, se compararmos
com o valor de R$ 1, cobrado pelos restaurantes "Bom
Prato", do governo. Quero ver alguém reclamar de barriga cheia.
Torço para que tudo transcorra em paz, mas, sou obrigado a
fazer minhas as palavras de Rubião, citando Quincas Borba, de Machado de Assis:
“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
Embalado pelo mais fraternal espírito, esse blog deixa,
abaixo, sua contribuição para desarmar os espíritos, serenar os ânimos e forrar
o estômago, porque ninguém é de ferro, né?
BATATINHAS AO VINAGRETE ESPECIAL
INGREDIENTES
1 kg de batatinhas
miúdas
• 2 copos de vinagre de vinho tinto Chapinha ou
similar
• 1/2 copo de óleo de soja de boa qualidade e que
deslize bem
• 1/2 copo de azeite de oliva cor-de-farda
• 1 colher de sobremesa de orégano
• Pimenta-do-reino ou calabresa fatiada a gosto (melhor
não, já que fatiada é um crime)
• Azeitonas verdes sem caroço a gosto (aí, sim,
porque alguém pode pisar no caroço e escorregar)
• 1/2 maço de cheiro verde picadinho (dá pra usar
algumas folhas de qualquer erva, especialmente as usadas na USP)
• 1 colher de chá de aji-no-moto (opcional)
•
2 cebolas médias picadinhas (fatiadas pega menos mal)
• 1 ou 2 dentes de alho picados bem miudinhos
(só não pode confundir alhos com bugalhos)
Modo de Preparo
1.
Lave muito bem as batatas, cozinhe na pressão
por 10 minutos até começar a pegar pressão (chiar a panela) – nada de ficar
imitando terrorista de Boston e colocar pregos dentro da panela de pressão, certo?
2.
Abra a panela e verifique o cozimento, a batata
deve estar cozida, porém firme, espete um palito ou garfo, reserve e espere
esfriar (ninguém gosta de segurar batata quente, nem mesmo manifestante).
3. Em um
vidro grande ou recipiente de vidro que tenha tampa, coloque todos os
ingredientes e junte as batatinhas, que podem ser
furadinhas com um garfo (melhor furar com palitinho de fósforo, senão a polícia
pode considerar esse talher uma arma).
4. Dê
uma chacoalhada no vidro para misturar bem, espere de 5 a 7 dias para estar
bem curada, e deixe um homem forte de prontidão para destampar o vidro.
Ai, que azia, mano!!! |
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